Tuberculose no Brasil: coinfecção com HIV, prevenção e diagnóstico precoce

Homem com tuberculose tossindo intensamente

A tuberculose (TB) ainda é uma das doenças infecciosas mais letais do mundo, mesmo com todos os avanços da medicina e com tratamentos disponíveis.

Atingindo principalmente os pulmões, mas podendo acometer outros órgãos e sistemas, a doença representa não apenas um desafio clínico, mas também social, especialmente quando associada a outras condições como o HIV.

O que é a tuberculose?

A tuberculose é uma doença causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. Sua transmissão ocorre pelo ar, por meio da inalação de partículas liberadas durante a tosse, espirros ou até mesmo pela fala de pessoas infectadas que ainda não iniciaram o tratamento.

A forma mais comum da tuberculose é a pulmonar, justamente por afetar os pulmões, e é também a mais transmissível, facilitando a propagação da doença em ambientes fechados e pouco ventilados.

No entanto, o bacilo também pode atingir órgãos como rins, ossos, meninges, sistema linfático e outros. Quando isso ocorre, fala-se em formas extrapulmonares da tuberculose, mais comuns em pessoas com baixa imunidade, principalmente aquelas vivendo com HIV.

Sintomas da tuberculose

  • Tosse persistente por três semanas ou mais;
  • Febre, geralmente à tarde (vespertina);
  • Sudorese noturna;
  • Emagrecimento não intencional;
  • Fadiga e cansaço;
  • Dor no peito ou dificuldade para respirar.

É essencial procurar uma unidade de saúde ao perceber esses sinais, pois quanto mais cedo o diagnóstico, maior a chance de cura e menor o risco de transmissão.

Quem está no grupo de risco?

Embora qualquer pessoa possa contrair a tuberculose, alguns grupos têm risco aumentado, seja pelo ambiente em que vivem, pelas condições de saúde ou fatores sociais. Entre eles, estão:

  • Pessoas vivendo com HIV/aids;
  • Indivíduos imunossuprimidos (como transplantados ou em quimioterapia);
  • Pessoas privadas de liberdade;
  • Indivíduos em situação de rua;
  • Profissionais da saúde;
  • Tabagistas e usuários de drogas;
  • Pessoas com doenças crônicas como diabetes;
  • Populações indígenas;
  • Crianças com contato próximo de adultos infectados.

Entre esses grupos, chama atenção a preocupação com a infecção latente por tuberculose (ILTB), uma condição em que o bacilo Mycobacterium tuberculosis está presente no organismo, mas ainda sem causar sintomas.

Estima-se que cerca de um quarto da população mundial esteja infectada de forma latente. Embora essas pessoas não transmitam a doença, entre 5% e 10% podem desenvolver a forma ativa ao longo da vida, especialmente se estiverem com a imunidade comprometida.

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Os perigos da coinfecção Tuberculose-HIV

A coinfecção TB-HIV é uma das maiores preocupações de saúde pública, uma vez que a tuberculose é a principal causa de morte entre pessoas vivendo com HIV em todo o mundo. Isso ocorre porque o vírus da imunodeficiência humana compromete o sistema imunológico, tornando o organismo mais vulnerável ao desenvolvimento da tuberculose ativa.

Estima-se pessoas com HIV têm até 30 vezes mais chances de desenvolver tuberculose ativa do que a população geral.

Em 2020, 10,2% dos casos novos de tuberculose no Brasil também apresentaram infecção por HIV, sendo essa proporção ainda maior em estados como o Rio Grande do Sul (16,3%) e Santa Catarina (15,1%).

O maior risco, além da progressão da doença, é o diagnóstico tardio. Em muitos casos, o HIV é descoberto apenas após a pessoa ser diagnosticada com tuberculose, o que compromete a resposta ao tratamento e eleva a taxa de mortalidade.

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Como se proteger?

A prevenção da tuberculose envolve ações que são simples, mas eficazes:

  1. Manter ambientes ventilados e com entrada de luz natural para reduzir o risco de transmissão;
  2. Praticar a etiqueta da tosse (cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar);
  3. Evitar aglomerações e locais fechados, principalmente se estiver em grupo de risco;
  4. Buscar a vacina BCG para crianças até 4 anos de idade, que protege contra formas graves da doença, como a meningite tuberculosa.

Além disso, o rastreamento da infecção latente, especialmente em pessoas com HIV, é uma das estratégias mais eficazes para conter a progressão da doença.

Confira: Biologia molecular para diagnóstico: a chave para o futuro da medicina de precisão

Teste IGRA: o que é e como funciona?

A tecnologia mais moderna utilizada para diagnosticar a infecção latente por tuberculose é o IGRA (Interferon-Gamma Release Assay), que está disponível no SUS para os grupos prioritários:

  • pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA);
  • paciente em uso de medicamentos biológicos;
  • paciente candidato à imunossupressão;
  • paciente com doença inflamatória imunomediada;
  • paciente receptor de transplante de órgão sólido ou células tronco hematopoiéticas;
  • crianças em contato com casos de tuberculose ativa.

O exame consiste na coleta de sangue do paciente, que é analisado para medir a reação das células imunológicas a antígenos do Mycobacterium tuberculosis.

O IGRA é mais preciso que o tradicional teste tuberculínico (PPD), pois não sofre interferência da vacina BCG, tem alta sensibilidade (95,3%) e especificidade (97,6%), e não exige retorno do paciente após 72 horas para leitura do resultado.

O diagnóstico da ILTB com o IGRA permite que o tratamento preventivo seja iniciado de forma precoce, evitando a progressão para a forma ativa da doença, principalmente em pessoas mais vulneráveis, como aquelas que vivem com HIV.

Confira também: Desafios da tuberculose no Brasil: como o teste de tuberculose é crucial no combate à doença

Vencer a tuberculose exige vigilância e compromisso

A tuberculose continua sendo um desafio global e nacional. Apesar de curável, a doença ainda mata mais de 1,5 milhão de pessoas por ano no mundo. O Brasil tem avançado, mas a coinfecção com HIV e a subnotificação de casos representam barreiras importantes no controle da doença.

O caminho para a erradicação passa pela educação da população, fortalecimento dos serviços de saúde, testagem ativa de infecções latentes e ações coordenadas entre profissionais e gestores. A manutenção do tratamento, mesmo que seja longo, também é indispensável.

Se você pertence a algum grupo de risco ou convive com alguém que foi diagnosticado com tuberculose, procure uma unidade básica de saúde. A prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento completo são os maiores aliados na luta contra essa doença.

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Referências

Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Coinfecção TB-HIV | 2022.
https://www.gov.br/aids/pt-br/central-de-conteudo/boletins-epidemiologicos/2022/coinfeccao-tb-hiv/boletim_coinfeccao_tb_hiv_2022.pdf (acessado em 14 de abril de 2025).

Ministério da Saúde. Tuberculose.
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/t/tuberculose (acessado em 14 de abril de 2025).

QIAGEN. Infecção Latente de Tuberculose (ILTB).
https://qiagen.com.br/wp-content/uploads/2022/03/Informacoes-importantes-sobre-ILTB-IGRA-e-Avaliacao-de-Tecnologias-em-Saude..pdf (acessado em 14 de abril de 2025).

QIAGEN. TB testing – for a world free of tuberculosis.
https://www.qiagen.com/es-us/tb-testing?cmpid=CM_IR_IR_QFT-general_0923_SEA_GA_ROW&gad (acessado em 14 de abril de 2025).

Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo. Tuberculose: dez verdades que todo mundo precisa saber.
https://capital.sp.gov.br/web/saude/w/noticias/310291 (acessado em 14 de abril de 2025).

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